A disputa eleitoral de 2026 na Bahia promete ser uma das mais acirradas das últimas décadas, segundo a análise do cientista político e CEO da Quaest, Felipe Nunes, em entrevista ao Correio. A queda na popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) impacta diretamente o cenário político baiano, que historicamente tem sido favorável ao partido.
Apesar das recentes mudanças na equipe de comunicação do governo federal, Nunes considera que os elevados índices de desaprovação refletem um problema mais profundo. “O desgaste da imagem do presidente, a desconexão com os anseios da população e frustrações com promessas não cumpridas são evidentes”, destacou ao Correio.
Uma pesquisa da Quaest, divulgada em 4 de junho, indica que Lula e Jair Bolsonaro estão empatados com 41% das intenções de voto, caso a eleição ocorresse hoje. “Isso mostra que Lula continua sendo o principal nome a ser superado, embora sua competitividade esteja em declínio e novos nomes como Tarcísio Freitas, Romeu Zema e Ronaldo Caiado estejam ganhando destaque”, acrescentou o diretor.
Para garantir a vitória em 2026, o candidato, seja Lula ou um concorrente da oposição, precisará conquistar um segmento específico de aproximadamente 10% do eleitorado que não se identifica nem com o lulismo nem com o bolsonarismo. “Estamos falando de eleitores adultos, predominantemente homens da classe média, que buscam melhorar sua qualidade de vida”, detalhou Nunes.
A possibilidade de Lula não se candidatar também foi abordada na entrevista. Nunes destacou que 66% dos brasileiros acreditam que o presidente não deveria buscar a reeleição. Apesar dessa percepção, ele avalia que é provável que o petista mantenha sua candidatura. “O PT não possui outro nome forte, e Lula é uma figura política de grande relevância”, afirmou.
A perda de apoio entre os evangélicos, que representam cerca de 27% da população brasileira — podendo atingir 30% entre os adultos — também é motivo de preocupação. Nunes alertou que a falta de diálogo com esse segmento pode prejudicar ainda mais o desempenho do governo.
Quando questionado sobre a possível demora de Jair Bolsonaro em anunciar um candidato para a disputa, Nunes acredita que essa postergação pode enfraquecer o ex-presidente. “Nomes como Tarcísio, Zema e Caiado estão crescendo de maneira autônoma, e Bolsonaro corre o risco de se tornar irrelevante se não agir rapidamente”, disse.
Sobre os temas centrais da campanha, o cientista político aponta segurança pública, mercado de trabalho, empreendedorismo e inteligência artificial como as pautas que dominarão a discussão. A anistia para os envolvidos nos eventos de 8 de janeiro, segundo ele, não terá impacto significativo nas eleições.
No contexto baiano, Felipe Nunes considera que a eleição está aberta. “A Bahia foi um dos estados mais beneficiados pela popularidade de Lula em 2022. Com a queda da popularidade do presidente, o cenário torna-se mais competitivo”, analisou. O principal nome da oposição, ACM Neto, deve chegar com força. “As pesquisas indicam um empate técnico com Jerônimo Rodrigues”, observou.
Por fim, o diretor da Quaest afirma que a oposição na Bahia enfrenta o desafio de medir o desgaste da hegemonia petista no estado. “É fundamental compreender se o cansaço que afeta Lula no âmbito nacional também se reflete na esfera estadual”, concluiu ao Correio.