A Revolução da Museômica: A Nova Era da Pesquisa em Biodiversidade
Em 1831, Charles Darwin iniciou uma viagem de cinco anos a bordo do HMS Beagle, com o objetivo de explorar a América do Sul. Durante essa expedição, ele coletou uma vasta gama de plantas, animais e fósseis, anotando observações cruciais que fundamentaram suas teorias sobre a evolução e a seleção natural. Atualmente, essas valiosas coleções estão protegidas no Museu de História Natural de Londres, onde têm sido preservadas por mais de dois séculos.
A Importância dos Museus de História Natural
Os museus de história natural desempenham um papel essencial na preservação da memória científica. Nos últimos anos, no entanto, várias coleções científicas têm sido subutilizadas, principalmente devido às novas técnicas de sequenciamento que exigem amostras de DNA intacto. Essa realidade está mudando, graças ao surgimento da museômica.
O Que é Museômica?
A museômica é definida como a aplicação de técnicas de biologia molecular, genômica e bioinformática em espécimes históricos de museus. Isso permite a extração e análise de DNA degradado (hDNA) de amostras preservadas, possibilitando a pesquisa em áreas como evolução, biodiversidade, genética populacional e conservação. Taran Grant, professor da Universidade de São Paulo (USP), destaca que a museômica está revolucionando a utilização das coleções científicas.
Inovações na Pesquisa Científica
No Seminário de Museologia França-Brasil, realizado em Paris, Grant falou sobre como a museômica permite a análise genética de materiais coletados há mais de cem anos. Desde os anos 1990, ele se dedica à extração de DNA de amostras antigas, enfrentando limitações tecnológicas que dificultavam essa tarefa. As novas plataformas de sequenciamento, como a Illumina, abriram novas possibilidades para o uso de DNA fragmentado.
Um desafio significativo permanece: a quantidade de DNA autêntico nas amostras é frequentemente muito pequena, tornando-as vulneráveis à contaminação. Para lidar com isso, a pesquisa requer ambientes controlados e equipamentos adequados, o que levou Grant e sua equipe a estabelecer uma sala limpa na USP, a única do tipo na América Latina dedicada a estudos de taxonomia.
o a Coleções Históricas de DNA
Grant estima que existam cerca de 3 bilhões de espécimes em museus ao redor do mundo. Com a museômica, é possível ar o DNA de muitos desses espécimes, reavivando o valor das coleções que antes eram consideradas irrelevantes do ponto de vista genético. Por exemplo, o recente artigo no Boletim do Museu Americano de História Natural, coautorado por Grant, examina a reclassificação de rãs-foguete da Mata Atlântica, demonstrando o impacto da museômica na taxonomia.
A Taxonomia e a Conservação da Biodiversidade
Com a museômica, a classificação de espécies que antes estava estagnada ganhou novo impulso. Grant ressalta que a compreensão da diversidade e da quantidade de espécies é crucial para realizar esforços de conservação efetivos. Sem um entendimento claro, não é possível implementar estratégias de proteção adequadas.
O Futuro da Museômica
Segundo Grant, a museômica não só revaloriza o papel dos museus, mas também traz desafios novos relacionados à preservação e financiamento. Para maximizar o potencial das coleções, é necessário considerar os espécimes como fontes de DNA e priorizar a conservação do material genético desde o início. Com a infraestrutura adequada e a preservação correta, podemos interromper a degradação do DNA.
A museômica está apenas começando, e sua relevância científica promete transformar a forma como compreendemos a biodiversidade e a conservação. Para mais informações sobre a contribuição da FAPESP, e FAPESP Week França.
Informações da Agência FAPESP
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