Centro de Micologia Médica da América Latina: Avanços no Estudo de Micoses
Apesar de haver 6,5 milhões de infecções fúngicas invasivas anuais no mundo, resultando em 3,8 milhões de mortes, as micoses permanecem subnotificadas e pouco estudadas. Nesse contexto, o Brasil se destaca como um local estratégico para pesquisas nesta área, dado o seu rico ecossistema de micoses endêmicas.
Instalação do CMM Latam
O Brasil foi escolhido pela Universidade de Exeter, do Reino Unido, para abrigar a unidade da América Latina do Centro de Micologia Médica (CMM). Inaugurado oficialmente na Universidade de São Paulo (USP) em setembro de 2024, o CMM Latam visa avançar na compreensão, prevenção e tratamento das infecções fúngicas no continente. Este centro conta com o apoio da FAPESP, que irá investir cerca de 750 mil libras (aproximadamente R$ 5,5 milhões) nos próximos cinco anos em bolsas de estudo e materiais de pesquisa.
A Universidade de Exeter contribuirá com 1 milhão de libras (cerca de R$ 7,5 milhões) para financiar materiais e pesquisadores em diferentes países da América Latina.
Colaboração Internacional e Interdisciplinar
O CMM já possui uma unidade na África do Sul e planeja expandir sua atuação para a Ásia. Segundo Arnaldo Colombo, coordenador-geral do CMM Latam, o centro funciona como uma rede internacional de laboratórios sinérgicos que visa compreender a história natural dos fungos patogênicos e desenvolver novas estratégias diagnósticas e terapias.
No Brasil, estão envolvidos pesquisadores de vários institutos da USP, da Fiocruz, da Universidade Federal Fluminense e de outras instituições na América Latina, incluindo Estados Unidos, Espanha, Colômbia e Argentina. A partir de 2025, o CMM Latam irá permitir submissões de projetos de pesquisa, priorizando estudos colaborativos entre profissionais em diferentes regiões.
Focos de Pesquisa
As pesquisas iniciais do CMM Latam se concentrarão em três micoses prevalentes no Brasil:
Esporotricose: Considerada uma epidemia nacional, transmitida por arranhaduras de gatos domésticos, essa doença já se espalhou pelo Brasil e chegou a países vizinhos, como Argentina e Uruguai.
Criptococose: Transmitida por leveduras do gênero Cryptococcus, essa infecção é especialmente preocupante em pacientes com Aids, transplantados e diabéticos, que apresentam sistema imune comprometido.
- Histoplasmose: Causada pelo fungo Histoplasma capsulatum, a histoplasmose é prevalente nas Américas e tem relevância especial no Brasil, devido ao impacto em pacientes imunodeprimidos.
Dimensões do Estudo
Os estudos no CMM Latam abrangerão cinco dimensões principais:
- Evolução microbiana e patogênese.
- Estudo de biomarcadores e novas estratégias diagnósticas.
- Carga de doença, história natural e abordagens terapêuticas.
- Interface de saúde ambiental, veterinária e humana em doenças fúngicas.
- Educação e capacitação de centros para diagnóstico, prevenção e tratamento.
A expectativa é que o CMM Latam se torne o maior centro de ensino e pesquisa da América Latina em micoses endêmicas, contribuindo significativamente para a saúde pública e o combate a essas infecções.
Informações da Agência FAPESP
